‘”Diz, porém, minha vizinhança gorda e patusca: “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe.” E, de repente, as duas coisas aconteceram: acabou-se o bem do Santos e o mal do Goiás. A rigor, simples fatores técnicos e táticos não explicam a prodigiosa reação. Uma coisa salta, desde logo, à vista: o Goiás despertou para o futebol”‘.
Essas palavras saíram de um dos maiores ícones da literatura brasileira. Considerado o principal dramaturgo nacional, Nelson Rodrigues, que atuava como jornalista e cronista, era apaixonado por futebol, e, não raro, escrevia sobre o tema.
Carioca, nunca negou o amor pelo Fluminense, o que em nada impedia de colocar outros clubes em pauta, principalmente quando os mesmos protagonizavam duelos inesquecíveis, como aquele Santos e Goiás, de 06 de fevereiro de 1974.
“Era o mesmo time, a mesma camisa, o mesmo clube e os mesmos jogadores e parecia outro time, outra camisa, outros jogadores”, descreveu Nelson Rodrigues sobre a mudança de postura do Goiás no segundo tempo, quando conseguiu uma das maiores façanhas do futebol daquela época: parar Pelé.
Com o Rei em campo, o Santos, logo de cara, fez 3 a 0 na equipe esmeraldina. Paghetti chegou a diminuir, mas, logo depois, os paulistas aumentaram a vantagem para 4 a 1.
Foi com esse placar que os times desceram para o vestiário, até que, no segundo tempo, “tudo mudou como num sonho”, como descreveu o próprio Nelson Rodrigues.
Em dia iluminado, Paghetti marcou mais dois gols para o Verdão, aos 34 e 37 do segundo tempo, diminuindo para 4 a 3 o placar. “Mas isso não bastara para sua fome e sua sede. Queria sempre mais. Como corriam os seus jogadores. Não era apenas a velocidade. Havia também uma paixão irresistível. Os craques do Goiás só faltavam apanhar à mãos a bola e comê-la fisicamente”.
Foi assim que Nelson Rodrigues descreveu a ávida reação esmeraldina, que, naquele momento, estava só começando. Onde estava Pelé? “Pelé estava lá. Era o maior jogador do mundo. Mas foi marcado e anulado. Momentos houve, no segundo tempo, em que o Goiás parecia ser o único time em campo”, rendeu-se o dramaturgo.
Ficou para o minuto final o último ato. Aos 45 minutos, Lucinho fez o gol que levou o Goiás ao empate de 4 a 4, que, para Nelson Rodrigues, “foi uma das mais belas, uma das mais sensacionais vitórias de todo o futebol brasileiro”. E ninguém há de discordar.
*Acesse aqui o documentário produzido pela TV Goiás e confira os gols e depoimentos dos principais personagens desse histórico jogo.